Mãe atípica

13/06/2024

Mãe atípica não é um ser diferente Ela é mãe, revestida de uma indumentária imaginária de mulher forte, à sorte de ser notada.

Ela vive os desafetos de uma sociedade afetada por uma hipnose padronizada.

Mãe atípica sofre pelo não sentir de quem te rodeia e odeia ter que se abrir para tudo o que ofende o "normal".

Ela vê à sua frente muros, para a grande maioria inexistentes. Ela não quer glória, aplausos, medalhas. Ela só não quer ter que oferecer à seu filho, migalhas.

Ela quer atitude, viver na plenitude de saber que seu filho tem espaço para se desenvolver. Tem segurança para conviver. Tem laços para criar, amigos para brincar.

Mãe atípica é ter que pedir, diariamente, licença pro seu filho existir. Exigir para seu filho ocupar espaço - na roda que nunca abre espontaneamente pra ele entrar. É ter que batalhar pro seu filho existir, para além dos muros da sua casa. É viver em constante "modo em brasa".

E que quando ousa sair, precisa estar preparada para levar todo tipo de pedrada. É um remar contra a maré constante porque, para esse tipo de gente, não existe lugar. Há que se brigar por ele.

Mãe atípica é frequentemente mal interpretada. Chamada de louca ou barraqueira, na explosão da exaustão, de quem só quer existir.

E por isso, em muitas vezes, mãe atipica é solidão. Nas rodas de conversas, nos grupos de mães. Não tem escuta aberta, empatia. Não tem interesse, porque o assunto pesa. A realidade é de difícil compreensão, e muito pesar. Tapinha nas costas seguido de "sinto muito pela sua condição".

Mãe atípica é andar por avenida movimentada, à pé e na contramão.

É ter que se valer da Constituição para lembrar que seu filho também é um cidadão.

É ter que aceitar o básico, confundido com privilégio.

É ter que andar com laudo, provar o óbvio e engolir a humilhação.

Então, quando encontar com uma, recolha seu olhar de pena. Diga apenas: "Ola! Como posso te ajudar?"

Texto da @camilawright